Um homem, que não era livre, mas
tornou-se ao fim, passou por um dilema desafiador: ser feliz ou não. Ou
não. Com: uma mulher, que não era livre,
mas tornou-se no fim – carregava consigo um machado mágico – ceifou os sonhos
daquele que mantinha preso aos seus pés. Negou-lhe poderes, obrigou-o a amá-la,
fez da vida um fiapo de linha.
Nas tarde de domingo, sentavam-se
à beira de si, juntos, para esgarçarem o peito, encherem-no de interrogações e
se embriagarem de fel. O movimento contínuo das lágrimas caindo abriu a brecha
que, visto por fora, podia-se enxergar a angústia de viverem enclausurados.
As flores colhidas no campo pelo
rapaz faleciam em dor nas mãos da moça, que, por sua vez, amarravam-nas como
adornos em si. O sorriso machucado dele fora escondido diversas vezes com as
mordaças da ignorância dela.
Ela era o pesar e ele, o amor
rejeitado.
Certo dia, sentados no córrego,
ele disse:
- Quero ser feliz.
E ela indagou:
- Você não quer ser mais meu?
E ele, mais uma vez:
- Quero ser feliz. Mas, sendo
assim, você nunca será feliz também. Ou eu ou você! Ver-te presa a mim, faz a
liberdade se afastar como nessa corredeira de águas borbulhentas...
- Mas você pertence a mim e...
Interrompeu-a:
- Não posso ser quem sou, porque
pertenço a ti e...
- Eu te amo do meu jeito!
- Eu te amo com limites!
E uma súbita ação: empurrou-a no
córrego. Ela não sabia nadar. E foi-se sem ele aos seus pés.
Com angústia e satisfação, ele
gritou-lhe: Amo você, mas optei por ser livre e feliz.
E assim o foi.