quarta-feira, 6 de março de 2013

Paraíso particular


Deste lado de cá, as pessoas não choram, pois sempre souberam que a morte era o momento mais sublime da vida e ansiaram tanto por esse ínfimo instante de transição.

O acordeão desperta o sono.

A lira faz você sorrir.

A flauta ensina os passos.

E o piano faz a gente dormir.


Aqui as plantas são verdes; pode-se ouvir a respiração das folhas; os pássaros gorjeiam como uma orquestra cintilante, somando ritmo à harmonia da vida por aqui passageira.

E as pessoas não choram, pois sabem que, daqui, partirão para outras viagens. As bagagens são desfeitas e refeitas na hora certa.

Dividem os frutos maduros, enquanto esperam, pacientes, os verdes corarem.

O amanhecer revigora os insetos contentes, ainda que não aparentes, que vagueiam as alamedas infestadas de barracas de acampamento com céus projetados nos tetos, pelos quais estrelas dissecam-se.

Mas aqui as pessoas não choram. Elas esperam a hora de seguir em frente, sem se despedir, porque sabem que vão se encontrar quando acordar. Aqui ou lá.