Deste lado de cá, as pessoas não
choram, pois sempre souberam que a morte era o momento mais sublime da vida e ansiaram
tanto por esse ínfimo instante de transição.
O acordeão desperta o sono.
A lira faz você sorrir.
A flauta ensina os passos.
E o piano faz a gente dormir.
Aqui as plantas são verdes;
pode-se ouvir a respiração das folhas; os pássaros gorjeiam como uma orquestra
cintilante, somando ritmo à harmonia da vida por aqui passageira.
E as pessoas não choram, pois
sabem que, daqui, partirão para outras viagens. As bagagens são desfeitas e
refeitas na hora certa.
Dividem os frutos maduros,
enquanto esperam, pacientes, os verdes corarem.
O amanhecer revigora os insetos
contentes, ainda que não aparentes, que vagueiam as alamedas infestadas de
barracas de acampamento com céus projetados nos tetos, pelos quais estrelas dissecam-se.
Mas aqui as pessoas não choram.
Elas esperam a hora de seguir em frente, sem se despedir, porque sabem que vão
se encontrar quando acordar. Aqui ou lá.
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