domingo, 14 de outubro de 2012

Carta ao desespero



Seria tão simples e compreensível se tu me disseste a verdade!

Quando eu soube da sua atitude fajuta, senti todo o meu afeto se espalhar como um ácido num conta-gotas. Uma sensação carregada de ira. Não sabia do que poderia ser capaz, caso te visse novamente: talvez beijar-te. Pior por ter sido a segunda vez que colocava a minha confiança à prova, renegando minha consideração.

Lembrar-se dos nossos beijos embaixo de tempestades e eu dizendo baixinho no seu ouvido “quero te amar pra sempre” agora dói tanto. Minhas lágrimas se confundiam com as gotas que caiam dos céus, mas você não percebia. Nossa relação era uma ferida exposta, sensível ao toque – ao meu e ao seu. Abraçar-te era ninar o universo que os cosmos reviravam. Mas o universo sempre foi grande demais para caber nos meus braços e me escapuliu.

Carrego aqui comigo, bem escondido com vergonha de perceberem, o pingente com sua foto, é o que me resta. Lembra-te quando me deste ele? Era dia dos namorados e nós completávamos mais um ano juntos. Você ficou com a minha foto e eu com a sua. Recordação e lembrança que nunca foram tão úteis como neste instante que me desespero.

O que mais me entristece é que não terei mais ninguém para ler meus poemas de manhã cedo, nem a quem dedicá-los porque você era a minha inspiração, tudo o que sempre sonhei encontrar. É difícil e angustiante sentir seu cheiro no travesseiro, com um vazio na cama. Já revirei cada canto do lençol que te abraçava.

Queria ouvir a porta batendo e você vindo em minha direção, arrependido, jurando-me amor eterno, chorando nos meus olhos e me apertar pelos braços, enquanto me beija. Isso me bastaria em várias noites de insônia.

Então apago as luzes. O nosso quarto torna-se um nada vazio e traduz exatamente tudo o que tu deixaste para mim. Paro na janela. Acendo um cigarro, depois dois, três e quantos mais, a sua espera. Caio em mim, percebo que não voltas mais. Despindo-me de ti, penso alto: é só um sonho. O fim do sonho que fomos juntos.


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