Avistei o rapaz por acaso. Era
bonito, formoso, bem educado, alto. Fitei-o nos olhos por alguns segundo sem
que me percebesse, estava distraído. Então surgiu uma coragem que há tempos não
me cumprimentava. Caminhei até a sua direção e, num gesto singelo, sorriu-me
tão espontaneamente quanto ingênuo. Apaixonei. Ali. Parei. Perguntei-lhe o
nome, era de profeta. Até que surgiu meu convite para sentarmos e tomarmos um
café na confeitaria perto de onde estávamos. Era numa praça, dessas que se
encontram vários bustos e aves famintas. E não sei por qual motivo ele aceitou.
Juro! Talvez carência, pena da minha carência, carência de dizer não. Sentamos
e logo lhe perguntei se sabia tocar o violão que carregava numa espécie de
maleta para instrumento. Fui surpreendido com outro talento, até então latente
na ocasião. Dedilhou e canto, mas cantou com tanta doçura, semelhante a um
coral das melhores vozes que eu já ouvira. “Conte-me outra música, se não for
pedir muito”. Apoiei o rosto sobre a mão, sobre a mesa. Sabe quando você fica
admirado com algo? Pois bem, eu estava mais que admirado, era, de fato,
apaixonado. Paixão à primeira vista, aquelas coisas de filmes românticos. E
cantou... Cantou... Cantou, até eu pedir para parar. Queria vê-lo novamente,
outro dia, no dia seguinte. E assim o fez. Por mais três semanas, reuníamos no
mesmo lugar, às vezes no banquinho da praça, mas era quase um ritual ouvir o
som que sua alma emitia. E depois dois meses e ele já frequentava minha casa,
porque eu insistia. Queria tê-lo bem perto, queria que fosse meu bibelô, era
tão delicado. Desde então, uma relação de afeto havia se consumido; eram comuns
beijos e abraços, amasso. E isso me completava, virou um vício. Certo dia, numa
dessas visitas, um sarau particular, beijou-me com ardência. Pegou-me com
força, abraçou-me como se seus braços dessem várias voltas em meu corpo,
atando-me ao seu peito. Cedi, por instinto e por desejo. Beijei seu pescoço, e
mais e mais e mais e tirei sua camisa ele tirou a minha e muitos beijos se
encontravam despimo-nos por completo. Fitou meus olhos como quem enxerga por
além. Isso havia me desarmado naquele instante. Deitei sobre seu corpo, tal
ponto a ouvir a pulsação da circulação sanguínea. Tomou-me as entranhas,
exalava hormônio e muito prazer. Corpo a corpo a alma a corpo a tudo que
estávamos propostos a aproveitar. E parecia uma eternidade, um infinito o qual
não queríamos nunca alcançar, mas caminhamos compassados até ele. O suor no
rosto, as pupilas dilatadas, a loucura iminente, o aperto da carne, a ardência,
o tremor, o temor pelo fim. Tudo brindava com nossos corpos. Gritei sem um
ruído, só as respirações cantavam naquela cama. E dormimos, apesar de tudo. Na
manhã seguinte, despediu-se de mim, dizendo que voltaria à noite. Mas até agora
nada do seu perfume, nem da sua canção, nem do seu adeus. Essa noite se tornou
infinita, um túnel escurecido sem direção. Agora caminho sozinho a procura da
saída. E caminho, apenas, sem destino, com o coração na mão, o peito aberto e
lágrimas nos olhos.
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