[Dedicado à Natascha]
Pela manhã, ao subir a ladeira do
Chapéu Mangueira, deparei-me com um rapaz jovenzinho sentado numa cadeira de
rodas. Aparentava ter 20 anos. Era negro, cabelo raspado, olhos serenos, roupas
simples e com dificuldade para operar a engenharia que o transportava. Tinha
uma áurea transparente.
Percebendo o seu incômodo,
ofereci ajuda para deslocá-lo ao destino que desejava. De prontidão, aceitou e
seguimos em frente. Realmente manejar aquele carro-portátil não foi nada fácil.
E isso impregnou minha cabeça até o topo do morro, onde paramos. Lá de cima,
era possível admirar toda a praia de Copacabana – belíssima, diga-se de
passagem. Ainda assim, vê-lo sobre o obstáculo com rodas me consternava.
– Olha que maravilha! Esse aqui é
o lugar onde mais gosto de estar. Traz uma paz tão forte, que eu consigo
senti-la em mim. É fria, assim como esse vento nas orelhas. Consegue perceber
também? – expressou-se com entusiasmo.
- Sim, claro. – balbuciei. – Imagine
morar com essa vista, poder assistir ao pôr do sol, ou ver os navios passeando
no horizonte... É lindo mesmo!
Um silêncio perturbador no tempo.
- Minha irmã adorava estar aqui. Vinha pela
manhã, todos os dias. Lembro-me das vezes que viemos juntos e ela sempre fazia
um pedido em silêncio, quando via o sol nascendo. – sorriu timidamente.
- E por que ela não o acompanha, agora? –
indaguei, com tom de dúvida.
- Infelizmente não se encontra
mais entre nós. Sempre venho aqui para encontrá-la. Ela assopra nas minhas
orelhas e volta para o infinito. – respondeu-me, esmaecendo o semblante.
- E o que houve com ela? –
perguntei.
– Ela caiu daqui de cima, em uma
dessas manhãs que vinha fazer seus pedidos ao sol. Completava 15 anos de vida.
Nesse dia, solicitou ao sol que a permitisse tocá-lo. E foi-se. Não deu tempo
de contê-la e evitar o acidente. Caí também!
- Que triste isso tudo! Tentar
tocar o sol... Pelo menos ela está no céu! – disse ao rapaz, na tentativa de
consolá-lo.
- Pois é. Ela não resistiu e
partiu. Mas continuo com essa sequela que me vês. Um dia seguiremos juntos como
um raio de sol que a levou em direção ao infinito. Permaneço esperando que me
leves. E isso é o que mais desejo! – retrucou, com os olhos brilhantes.
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Fotografias.
Local: Chapéu Mangueira/ RJ.
Por Dimitri Duque.
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