quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Raio de sol


[Dedicado à Natascha]

Pela manhã, ao subir a ladeira do Chapéu Mangueira, deparei-me com um rapaz jovenzinho sentado numa cadeira de rodas. Aparentava ter 20 anos. Era negro, cabelo raspado, olhos serenos, roupas simples e com dificuldade para operar a engenharia que o transportava. Tinha uma áurea transparente.

Percebendo o seu incômodo, ofereci ajuda para deslocá-lo ao destino que desejava. De prontidão, aceitou e seguimos em frente. Realmente manejar aquele carro-portátil não foi nada fácil. E isso impregnou minha cabeça até o topo do morro, onde paramos. Lá de cima, era possível admirar toda a praia de Copacabana – belíssima, diga-se de passagem. Ainda assim, vê-lo sobre o obstáculo com rodas me consternava.

– Olha que maravilha! Esse aqui é o lugar onde mais gosto de estar. Traz uma paz tão forte, que eu consigo senti-la em mim. É fria, assim como esse vento nas orelhas. Consegue perceber também? – expressou-se com entusiasmo.


- Sim, claro. – balbuciei. – Imagine morar com essa vista, poder assistir ao pôr do sol, ou ver os navios passeando no horizonte... É lindo mesmo!

Um silêncio perturbador no tempo.

 - Minha irmã adorava estar aqui. Vinha pela manhã, todos os dias. Lembro-me das vezes que viemos juntos e ela sempre fazia um pedido em silêncio, quando via o sol nascendo. – sorriu timidamente.

 - E por que ela não o acompanha, agora? – indaguei, com tom de dúvida.

- Infelizmente não se encontra mais entre nós. Sempre venho aqui para encontrá-la. Ela assopra nas minhas orelhas e volta para o infinito. – respondeu-me, esmaecendo o semblante.

- E o que houve com ela? – perguntei.

– Ela caiu daqui de cima, em uma dessas manhãs que vinha fazer seus pedidos ao sol. Completava 15 anos de vida. Nesse dia, solicitou ao sol que a permitisse tocá-lo. E foi-se. Não deu tempo de contê-la e evitar o acidente. Caí também!

- Que triste isso tudo! Tentar tocar o sol... Pelo menos ela está no céu! – disse ao rapaz, na tentativa de consolá-lo.

- Pois é. Ela não resistiu e partiu. Mas continuo com essa sequela que me vês. Um dia seguiremos juntos como um raio de sol que a levou em direção ao infinito. Permaneço esperando que me leves. E isso é o que mais desejo! – retrucou, com os olhos brilhantes.


Curta a fanpage aqui!
________________________________________

Fotografias.
Local: Chapéu Mangueira/ RJ.
Por Dimitri Duque.















Nenhum comentário: