Deitado no chão eu só via a
infiltração que decorava o teto. Tinha cheiro de mofo impregnando o
ambiente, ruídos de insetos, uma música vazia que me machucava.
Um espelho e pouca iluminação
eram o que me cercavam.
De relance, olhei para a minha
imagem, brotando à medida que minha coragem permitia observá-la. Olhos fundos,
boca seca, cabelos desarrumados. Sujo.
Levantei para conferir de perto
meu rosto. O reflexo não me acompanhou. Então parei perplexo vendo aquele ser
estirado e sem ânimo para erguer-se.
As gotas que rolavam e tocavam a
sinfonia da solidão seriam incapazes de ressuscitar a imagem.
Bati no espelho com as pontas dos
dedos, temendo sua fragilidade. O vidro estremeceu, mas sequer comoveu quem
permanecia imóvel. Deslizei meu corpo sobre o espelho, rosto, mãos, ouvidos.
“Por que não alcançá-lo?”
Desejei não estar ali. Procurei a
saída, sem sucesso. A escuridão era severa demais para isso.
Bati no vidro. Nada.
Alguns ratos transitavam sobre o
corpo que jazia. Eu me reconhecia nele, era eu mesmo. Porém um abismo tênue nos
separava. Por esse abismo nem a sombra ousava passar.
Minhas roupas, rotas, pesavam
minha consciência e dificultava meus movimentos – olhar e não ver. Forcei um
choro porque a sede sucumbia à carne. As lágrimas eram fontes de água limpa.
Mirei cada pingo na língua cansada exposta.
Toquei o vidro. Bati forte.
Gritei meu nome. Abri e fechei os olhos infinitas vezes. Imaginei minha
existência. E fracassei.
Sentei no chão com as pernas
cruzadas. Agora de costa para o eu-deitado. Vez ou outra olhava para trás ao
ouvir a canção que ecoava. Um som afiado cortava meus pensamentos em pedaços.
Partia-me ao meio. O barulho do vazio que existia mim.
Subitamente, levantei e virei-me
ao espelho. Não havia mais o homem por lá. Nem mesmo o som. Sozinho por completo, preso deste lado,
penetrei na ausência do reflexo.
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